A inadimplência na geração Z e o crescente processo de negativação
uma análise crítica à luz de pressupostos marxistas
DOI:
https://doi.org/10.70622/2238-7110.2025.645Palavras-chave:
capitalismo, superendividamento, teoria materialista, responsabilidade civil, jovens consumidoresResumo
A centralização econômica no Brasil, associada à ascensão do capitalismo, exerce significativa influência sobre os padrões de consumo da população, em especial das classes assalariadas e de baixa renda. Nesse contexto, as formas de alienação impostas pelo sistema contribuem para a banalização das obrigações financeiras, afetando de modo particular indivíduos entre quinze e trinta anos, pertencentes à denominada "Geração Z". O presente estudo tem como objetivo analisar os fatores que conduzem essa parcela da população à inadimplência, à luz do materialismo histórico proposto pela teoria marxista. Para tanto, fundamenta-se em pesquisa bibliográfica e documental, articulada à investigação histórica, utilizando como fontes principais livros, revistas científicas, jornais, além de estudos e levantamentos de dados sobre endividamento juvenil. A relevância da pesquisa reside na identificação dos mecanismos sociais que fomentam hábitos de consumo prejudiciais entre jovens e adolescentes. Os resultados indicam que o endividamento juvenil se configura como fenômeno social e cultural, estruturado para atender aos interesses lucrativos de grandes corporações em articulação com as mídias sociais, as quais exploram dinâmicas de pertencimento e necessidade de aprovação como instrumentos de captura dessa geração. Conclui-se que, ao transcender a esfera individual, o endividamento juvenil deve ser compreendido em suas causas estruturais, de modo a subsidiar estratégias coletivas de mitigação de seus efeitos nocivos.
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